E é precisamente na leitura de alguns artigos e na conversa que tenho tido com alguns amigos/as que vou tentar falar e analisar, com alguma ficção claro, do meu Eu Mascarado.
Ora, todos nós, desde que somos crianças, aprendemos com os nossos pais e professores uma série de regras para viver em sociedade... “Corte com a faca na mão direita”... “Não faça barulho com o palhinha do refrigerante”... “Agradeça quando receber algo de alguém”... E por aí adiante.
Aprendemos, assim, o que “se deve” e o que “não se deve” fazer.
Até aí, tudo bem, porque é necessário que saibamos usar essas máscaras com sabedoria para nos relacionarmos com as outras pessoas com respeito e harmonia.
…Como seria se eu decidisse ir a reunião importante de trabalho vestindo calções, t-shirt e sandálias, só porque está fazendo um calor terrível?... Penso eu, enquanto visto meu fato e sapatos de pele. É claro que estou usando uma máscara, de certa forma construindo um personagem, e DESDE QUE EU SAIBA DISSO, está tudo bem.
Os problemas acontecem quando nos esquecemos de quem somos e nos misturamos com as máscaras que criamos.
Para que percebam o meu ponto de vista e o mecanismo das ditas “Mascaras”, vou criar duas personagens distintas. Duas personagens que no fundo conheço muito bem…
Máscara da agressividade
Imaginem que o Quim tenha sido criado em uma família dessas poderosas, com pessoas fortes, que valorizavam a força, a coragem, a audácia. A ironia é que Quim não era tão corajoso assim, e nem teria que ser, afinal, era apenas uma criança aprendendo a lidar com um mundo que é vasto e, muitas vezes, assustador. Mas o fato é que todas as vezes que chorava, Quim era desprezado nessa família de fortes.
Com o tempo, ele foi aprendendo que seria muito mais valorizado se mostrasse decidido, invulnerável e independente. Quim cresceu e se tornou poderoso. É director de uma empresa multinacional e seus subordinados têm medo dele. É muitas vezes agressivo, jamais admite um erro, e parece ter o poder de intimidar as pessoas. Conseguiu muitas coisas graças a esse jeito de ser, mas no fundo não se sente tão forte assim. Muitas vezes se sente horrivelmente cansado e assustado, e nessas vezes mostra-se ainda mais assustador, para que ninguém perceba a sua “fraqueza”. Ele continua agindo pela vida como imaginava que as pessoas gostariam que agisse, de acordo com essa máscara que construiu. O seu Eu mascarado poderoso existe porque ele quer ser aceite pelas pessoas, e porque não quer que percebam como na verdade se sente vulnerável.
No fim, o que acontece é que ele representa tão bem seu papel que ninguém o enxerga como é. Ninguém percebe o quanto se sente cansado, o quanto precisa de ajuda e compreensão. Quim raramente receberá um colo ou um carinho. Com certeza atrairá muitas situações difíceis, pessoas que a confrontarão, confirmando a hipótese de que o mundo é mesmo agressivo e que ele deve se armar e se defender. Vocês percebem? Quim tornou-se prisioneiro de sua máscara. Com o tempo, até mesmo Quim se esquece de quem é, e em alguns casos, passa a achar estranhos sentimentos como afecto, cuidado e amor, como se fossem falsos ou hipócritas.
Bem, o caminho de crescimento para uma pessoa como Quim envolve um risco que ele consideraria enorme... o risco de deixar que as pessoas vejam o que se esconde sobre a máscara. Deixar que percebam que ele não é tão forte como parece, mostrar que também tem medo às vezes, que também se cansa, que também precisa de ajuda... um risco e tanto para alguém como ele!
Máscara do amor
Bem, agora vou criar outro personagem, vou chamá-lo Zé.
Zé, diferentemente de Quim, foi criado em uma família que tinha como valores principais a generosidade, a ajuda ao próximo, a bondade, o perdão, o amor. Em sua casa qualquer expressão de raiva era vista como algo ruim (e não como força, como no caso de Quim). Assim, ele aprendeu que devia conter sua raiva, ser sempre compreensivo, amoroso e gentil. Quando agia assim era aceito e amado. Quando explodia era criticado ou deixado de lado.
Por outro lado, quando Zé chorava e se mostrava fraco, era acolhido e ganhava um delicioso leite com chocolate que sua mãe lhe preparava com todo o carinho, enquanto o abraçava... “Pobrezinho, a mamã está aqui”, dizia ela.
Bem, o facto é que Zé cresceu e construiu um Eu Mascarado que era pura bondade. Trabalha em inúmeros projectos sociais, ajuda muitas pessoas, não ganha lá muito dinheiro, é verdade. As pessoas o vêem como uma pessoa generosa, gentil, compreensiva, boa. É claro que muitas pessoas passaram a tentar aproveitar-se dele. Outras colaram-se a ele como sanguessugas, telefonam de madrugada para falar de seus problemas, pedem dinheiro emprestado (que sempre esquecem-se de devolver, é claro), chegam uma hora atrasadas em um encontro sem se preocupar, porque sabem que “Zé não se importa, é tão bonzinho...”. Raramente Zé se impõe ou perde a paciência com alguém. Quanto muito, fica amuado, tristemente encolhido em um canto, com cara de cão sem dono, esperando assim que as pessoas se arrependam de tê-lo feito sentir-se tão mal assim.
No fundo Zé sente muita raiva. Também se sente tão cansado quanto Quim. Não consegue se sentir valorizado, não consegue impor limites, não sabe dizer “Não”. Seu Eu Mascarado o aprisiona também. Não pode sequer lidar com a ideia de que, como qualquer ser humano, sinta raiva, ciúme, inveja e até mesmo ódio. Não consegue colocar-se em primeiro lugar. Não enfrenta as pessoas.
Seu caminho de crescimento requer que, como Quim, ele enfrente um enorme desafio: o de correr o risco de ser quem é. Seu desafio é mostrar que não é sempre tão bonzinho como pensam. Que, como qualquer pessoa, também se irrita, e que é capaz de dizer “não” quantas vezes for necessário. Zé precisa parar de querer agradar sempre e correr o risco de que não gostem dele. Afinal, é impossível agradar a todos, não é? Precisa deixar aparecer aqueles sentimentos que aprendeu a considerar “maus”. Precisa deixar que as pessoas percebam que também fica chateado, que não está disponível 24 horas por dia e que merece ser respeitado.
Deixando um pouco as máscaras de lado, acho importante ressaltar que é claro que existem pessoas que são verdadeiramente fortes e verdadeiramente amorosas. Isso nem sempre é uma máscara!!! Mas quando essas qualidades são reais, elas não pesam. Podemos ser fortes sem precisar negar os momentos em que nos sentimos vulneráveis. Podemos ser amorosos sem nos apagar ou diminuir por isso. Quando somos de verdade fortes, ou amorosos, fazemos isso sem sentir aquele cansaço e mal-estar que a máscara trás.
Só podemos sentir a brisa da vida com o rosto descoberto! E como eu sei isso, luto para não sentir o cansaço e mal-estar que tenho sentido ultimamente…
Ora, todos nós, desde que somos crianças, aprendemos com os nossos pais e professores uma série de regras para viver em sociedade... “Corte com a faca na mão direita”... “Não faça barulho com o palhinha do refrigerante”... “Agradeça quando receber algo de alguém”... E por aí adiante.
Aprendemos, assim, o que “se deve” e o que “não se deve” fazer.
Até aí, tudo bem, porque é necessário que saibamos usar essas máscaras com sabedoria para nos relacionarmos com as outras pessoas com respeito e harmonia.
…Como seria se eu decidisse ir a reunião importante de trabalho vestindo calções, t-shirt e sandálias, só porque está fazendo um calor terrível?... Penso eu, enquanto visto meu fato e sapatos de pele. É claro que estou usando uma máscara, de certa forma construindo um personagem, e DESDE QUE EU SAIBA DISSO, está tudo bem.
Os problemas acontecem quando nos esquecemos de quem somos e nos misturamos com as máscaras que criamos.
Para que percebam o meu ponto de vista e o mecanismo das ditas “Mascaras”, vou criar duas personagens distintas. Duas personagens que no fundo conheço muito bem…
Máscara da agressividade
Imaginem que o Quim tenha sido criado em uma família dessas poderosas, com pessoas fortes, que valorizavam a força, a coragem, a audácia. A ironia é que Quim não era tão corajoso assim, e nem teria que ser, afinal, era apenas uma criança aprendendo a lidar com um mundo que é vasto e, muitas vezes, assustador. Mas o fato é que todas as vezes que chorava, Quim era desprezado nessa família de fortes.
Com o tempo, ele foi aprendendo que seria muito mais valorizado se mostrasse decidido, invulnerável e independente. Quim cresceu e se tornou poderoso. É director de uma empresa multinacional e seus subordinados têm medo dele. É muitas vezes agressivo, jamais admite um erro, e parece ter o poder de intimidar as pessoas. Conseguiu muitas coisas graças a esse jeito de ser, mas no fundo não se sente tão forte assim. Muitas vezes se sente horrivelmente cansado e assustado, e nessas vezes mostra-se ainda mais assustador, para que ninguém perceba a sua “fraqueza”. Ele continua agindo pela vida como imaginava que as pessoas gostariam que agisse, de acordo com essa máscara que construiu. O seu Eu mascarado poderoso existe porque ele quer ser aceite pelas pessoas, e porque não quer que percebam como na verdade se sente vulnerável.
No fim, o que acontece é que ele representa tão bem seu papel que ninguém o enxerga como é. Ninguém percebe o quanto se sente cansado, o quanto precisa de ajuda e compreensão. Quim raramente receberá um colo ou um carinho. Com certeza atrairá muitas situações difíceis, pessoas que a confrontarão, confirmando a hipótese de que o mundo é mesmo agressivo e que ele deve se armar e se defender. Vocês percebem? Quim tornou-se prisioneiro de sua máscara. Com o tempo, até mesmo Quim se esquece de quem é, e em alguns casos, passa a achar estranhos sentimentos como afecto, cuidado e amor, como se fossem falsos ou hipócritas.
Bem, o caminho de crescimento para uma pessoa como Quim envolve um risco que ele consideraria enorme... o risco de deixar que as pessoas vejam o que se esconde sobre a máscara. Deixar que percebam que ele não é tão forte como parece, mostrar que também tem medo às vezes, que também se cansa, que também precisa de ajuda... um risco e tanto para alguém como ele!
Máscara do amor
Bem, agora vou criar outro personagem, vou chamá-lo Zé.
Zé, diferentemente de Quim, foi criado em uma família que tinha como valores principais a generosidade, a ajuda ao próximo, a bondade, o perdão, o amor. Em sua casa qualquer expressão de raiva era vista como algo ruim (e não como força, como no caso de Quim). Assim, ele aprendeu que devia conter sua raiva, ser sempre compreensivo, amoroso e gentil. Quando agia assim era aceito e amado. Quando explodia era criticado ou deixado de lado.
Por outro lado, quando Zé chorava e se mostrava fraco, era acolhido e ganhava um delicioso leite com chocolate que sua mãe lhe preparava com todo o carinho, enquanto o abraçava... “Pobrezinho, a mamã está aqui”, dizia ela.
Bem, o facto é que Zé cresceu e construiu um Eu Mascarado que era pura bondade. Trabalha em inúmeros projectos sociais, ajuda muitas pessoas, não ganha lá muito dinheiro, é verdade. As pessoas o vêem como uma pessoa generosa, gentil, compreensiva, boa. É claro que muitas pessoas passaram a tentar aproveitar-se dele. Outras colaram-se a ele como sanguessugas, telefonam de madrugada para falar de seus problemas, pedem dinheiro emprestado (que sempre esquecem-se de devolver, é claro), chegam uma hora atrasadas em um encontro sem se preocupar, porque sabem que “Zé não se importa, é tão bonzinho...”. Raramente Zé se impõe ou perde a paciência com alguém. Quanto muito, fica amuado, tristemente encolhido em um canto, com cara de cão sem dono, esperando assim que as pessoas se arrependam de tê-lo feito sentir-se tão mal assim.
No fundo Zé sente muita raiva. Também se sente tão cansado quanto Quim. Não consegue se sentir valorizado, não consegue impor limites, não sabe dizer “Não”. Seu Eu Mascarado o aprisiona também. Não pode sequer lidar com a ideia de que, como qualquer ser humano, sinta raiva, ciúme, inveja e até mesmo ódio. Não consegue colocar-se em primeiro lugar. Não enfrenta as pessoas.
Seu caminho de crescimento requer que, como Quim, ele enfrente um enorme desafio: o de correr o risco de ser quem é. Seu desafio é mostrar que não é sempre tão bonzinho como pensam. Que, como qualquer pessoa, também se irrita, e que é capaz de dizer “não” quantas vezes for necessário. Zé precisa parar de querer agradar sempre e correr o risco de que não gostem dele. Afinal, é impossível agradar a todos, não é? Precisa deixar aparecer aqueles sentimentos que aprendeu a considerar “maus”. Precisa deixar que as pessoas percebam que também fica chateado, que não está disponível 24 horas por dia e que merece ser respeitado.
Deixando um pouco as máscaras de lado, acho importante ressaltar que é claro que existem pessoas que são verdadeiramente fortes e verdadeiramente amorosas. Isso nem sempre é uma máscara!!! Mas quando essas qualidades são reais, elas não pesam. Podemos ser fortes sem precisar negar os momentos em que nos sentimos vulneráveis. Podemos ser amorosos sem nos apagar ou diminuir por isso. Quando somos de verdade fortes, ou amorosos, fazemos isso sem sentir aquele cansaço e mal-estar que a máscara trás.
Só podemos sentir a brisa da vida com o rosto descoberto! E como eu sei isso, luto para não sentir o cansaço e mal-estar que tenho sentido ultimamente…
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